Conflitos em avaliação de aprendizagem.
Mestrado |
1996
Orientador: Luiz Carlos de Freitas
Resumo:
A avaliação tem sido caracterizada como um processo conflitivo que interfere nas relações interpessoais estabelecidas no contexto acadêmico, assim como, nas próprias relações dos sujeitos com o conhecimento, onde a preocupação com o ensinar/aprender acaba sendo substituída por uma preocupação de ordem mais pragmática: aprovação ou reprovação. O ensino superior por sua natureza reflexiva, contribui para que esses conflitos se manifestem, embora, raramente, as contradições emergentes deles sejam exploradas. Neste sentido, compreender os conflitos vivenciados por professores e alunos de um curso de Pedagogia, no tocante à avaliação de aprendizagem, constituiu-se o objetivo central deste trabalho.
Através de relatos escritos, entrevistas e observações da prática pedagógica no espaço de uma sala de aula, durante um semestre letivo, do ano de 1995, procuramos apreender os indicadores das vivências em avaliação de aprendizagem e, dentro destes, os fatores determinantes na configuração dos conflitos. Os indicadores - experiências de aprendizagem anteriores, nível de relacionamento professor-aluno, sistemática de avaliação adotada e organização do trabalho pedagógico -, previamente selecionados e tomados como referência para a análise dos dados, não ofuscaram nossa percepção sobre os indicadores que, naturalmente, afloraram da pesquisa - e que relacionam-se ou contêm aqueles.
Esta pesquisa nos permitiu concluir que a avaliação em si não é geradora de conflitos. Os conflitos são decorrentes da forma e finalidade com que a avaliação é realizada, o que, freqüentemente, ocorre numa perspectiva autoritária e excludente. Os alunos sofrem, mais diretamente, os efeitos de um processo avaliativo dessa natureza, cuja finalidade precípua é a classificação; conflitam-se, primeiramente, com o professor, que tem o poder de avaliá-los e, que, nem sempre o faz de forma transparente e democrática, depois, conflitam-se com o próprio sistema de avaliação, que insiste em perpetuar o sentido meramente classificatório da avaliação, em detrimento de um real desenvolvimento cognitivo, e, ainda, com a metodologia de trabalho adotada pelo professor, caracterizada pelo distanciamento do sujeito que conhece, do objeto de conhecimento. Por fim, o aluno conflita-se consigo próprio, pensando nas capacidades e possibilidades que possui, ou não, para enfrentar com sucesso um processo seletivo de escolarização, na medida em que esta é considerada crucial para a sua vida social e profissional; e dentro deste processo, dividem-se entre o desejo, a necessidade de aprender conteúdos significativos e a necessidade maior de conseguir resultados de rendimento escolar que lhes assegurem a aprovação no curso.
Os professores, também, enfrentam conflitos em relação à avaliação. E estes conflitos consistem basicamente em: como superar uma forma consagrada de ensino e avaliação, cuja função básica é a seleção de indivíduos, numa correspondência estreita com as relações sociais de produção e de classe, características da sociedade capitalista; como transformar a organização do trabalho pedagógico, de forma a superar a fragmentação e o isolamento das ações docentes; como incluir o aluno no processo de aprendizagem, de forma que este responsabilize-se, também, por sua formação acadêmico-profissional. Os conflitos consigo mesmos dizem respeito ao desafio de manterem uma coerência entre os objetivos de ensino definidos como prioritários - segundo o projeto educativo defendido individualmente - e sua ação docente.
Os conflitos em avaliação de aprendizagem devem ser analisados no âmbito das relações de poder - presentes no cotidiano acadêmico -, que modulam a organização do trabalho pedagógico, formal e concretamente. O que significa dizer que, as mudanças na área da avaliação de aprendizagem estão indissociavelmente ligadas a mudanças no processo ensino-aprendizagem como um todo. Isto porque, a avaliação é um componente da própria organização do trabalho pedagógico que, ao mesmo tempo que é modulada por ele, possui o poder de direcioná-lo. Portanto, o enfrentamento dos conflitos em avaliação passa pelo repensar não apenas das relações professor-aluno mas, fundamentalmente, das relações de ambos com o conhecimento escolar que, de trabalho “abstrato” deve passar à condição de trabalho “concreto”, mediado pelo trabalho socialmente produtivo - elemento essencial para o estabelecimento da relação teoria-prática.